1993: Ano Internacional dos Povos Indígenas do Mundo

1995 / 2004: Primeira Década Internacional dos Povos Indígenas

2005 / 2014: Segunda Década Internacional dos Povos Indígenas

2019: Ano Internacional das Línguas Indígenas

2020: Ano Internacional da Saúde Vegetal


terça-feira, 21 de novembro de 2017

Sobre visibilidade indígena na literatura

Matéria extraída do Blog Visibilidade indígena.
Por:  Luisa Geisler.


Cinco escritoras indígenas contemporâneas que você precisa conhecer!


O foco em autoras contemporâneas é importante para evitar uma ideia estereotipada da cultura indígena. Importa saber o que se faz hoje, que autores podemos ler hoje. Talvez a lista não seja perfeita nem honre todas as escritoras que merecem esse espaço. E claro que não honra os tantos autores homens, mas essa matéria se foca em discutir arte feita por mulheres.  

Eliane Potiguara

    Crédito: Silvia Villalva



Eliane Potiguara é professora e escritora indígena brasileira, de origem potiguara. Trabalha com diversos projetos que envolvem propriedade intelectual indígena, como o Instituto Indígena de Propriedade Intelectual e a da Rede de Escritores Indígenas na Internet, além de fazer parte da Rede Grumin de Mulheres Indígenas. Foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”.No seu website oficial, a autora divulga sua literatura, em conjunto de um blog como parte de seu trabalho na rede GRUMIN de Mulheres Indígenas, da qual é fundadora e coordenadora.
Um de seus livro, Metade Cara, Metade Máscara (2014) fala de amor, de relações humanas, paz, identidade, histórias de vida, mulher, ancestralidade e famílias. É uma mensagem para o mundo, uma vez que descreve valores contidos pelo poder dominante e, quando resgatados, submergem o selvagem, a força espiritual, a intuição, o grande espírito, o ancestral, o velho, a velha, o mais profundo sentimento de reencontro de cada um consigo mesmo, reacendendo e fortalecendo o eu de cada um, contra uma auto-estima imposta pelo consumismo, imediatismo e exclusões social e racial ao longo dos séculos.

Lia Minapoty


Lia Minapoty é brasileira, maraguá, palestrante e atuante dentro da causa indígena. É autora de “Com a noite veio o sono”, publicado pela Leya. O livro trata do modo de pensar que os maraguás têm a respeito da noite. O livro trata de temas maraguás, informações relevantes à diversidade cultural do país, como por exemplo, a luta de reconhecimento e demarcação de terras indígenas. Dentro disso, o livro apresenta ilustrações de Maurício Negro. Lia tem um blog sem posts desde 2011, mas que mostra muito de sua arte até aquele momento, além de textos sobre a cultura indígena e sobre sua carreira.

Janet Campbell Hal




Janet Campbell Hale é uma escritora nativo-americana. O pai da autora era totalmente Coeur d’Alene, enquanto sua mãe era parte Kootenay e irlandesa. Por isso, o trabalho da autora em geral explora questões da identidade nativo-americana, ainda com questões como pobreza, abuso e a condição da mulher na sociedade. Escreveu Bloodlines: Odyssey of a Native Daughter, que é em parte biográfico, mas em parte uma discussão da experiência nativo-americana; The Owl’s Song,The Jailing of Cecilia Capture e Women on the Run.

Graça Graúna

Crédito: Íris Cruz

Graça Graúna é descendente de potiguaras e se formou em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco. Também fez um mestrado sobre mitos indígenas na literatura infantil e se doutorou em literatura indígena contemporânea no Brasil. É autora de Canto Mestizo (Ed. Blocos, 1999), Tessituras da Terra (Edições M.E, 2001) e Tear da Palavra, de 2007. Escreveu obras infanto-juvenis como Criaturas de Ñanderu (Ed. Manole, 2010).


Marisol Ceh Moo



Marisol Ceh Moo é mexicana, escreveu X-Teya, u puksi’ik’al ko’olel (Teya, un corazón de mujer), que foi o primeiro romance escrito em idioma maia. O livro foi publicado numa edição bilíngue pela Dirección General de Culturas Populares (México), com a versão em maia e em castelhano. Em entrevistas, a autora explica que as publicações em língua maia só haviam trazido narrativas curtidas, como o conto, o poema, o mito e as lendas. Marsiol Ceh Moo queria mais liberdade com os personagens, tempos verbais e contextos e, para isso, sentiu necessidade de uma narrativa mais longa.Teya, un corazón de mujer é o primeiro romance escrito por uma mulher em um dos idiomas indígenas do México e narra o assassinato de um militante comunista em Yucatán (México). A autora recebeu por essa narrativa o reconhecido Premio Nezahualcóyotl de Literatura en Lenguas Mexicanas.



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

I ENCONTRO INTERNACIONAL DE CULTURAS AFRODESCENDENTES E INDÍGENAS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE



Apresentação

O ÁFRICA BRASIL - V ENCONTRO INTERNACIONAL DE LITERATURAS, HISTÓRIAS E CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS E AFRICANAS DA UESPI; I ENCONTROINTERNACIONAL DE CULTURAS AFRODESCENDENTES E INDÍGENAS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE; VII COLÓQUIO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA e IV SALÃO DO LIVRO UNIVERSITÁRIO DA UESPI a se realizarem nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2017, na Universidade Estadual do Piauí, Campus Poeta Torquato Neto, Teresina, Piauí, Brasil, proporcionarão momentos de reflexão sobre narrativas e cidadania, no âmbito dos estudos interdisciplinares no que tange às áreas de literatura, cultura e história.
O contexto acadêmico, social e político brasileiro atual clama por reorientações teórico-reflexivas, a fim de enfrentarmos os entraves que se apresentam, em razão das imposições de novos modelos educacionais. Com as novas medidas que se anunciam como retrocessos, por exemplo, na exclusão da disciplina História no ensino brasileiro, se opor ao desmantelamento das áreas de humanas, reativando a importância do estudo da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena. O ÁFRICA BRASIL 2017 se justifica pela necessidade de discussão e reflexão diante das novas demandas educacionais, levando em conta a legislação vigente, a saber: a Lei de Diretrizes e Base de Educação Brasileira – LDB/9.394/96, nos Artigos 26-A e 79-B, alterada pelas Leis Federais 10.639/03 e 11.645/2008. A Lei Nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, ato promulgado pela Presidência da República do Brasil.
O ÁFRICA BRASIL 2017, Narrativas e Cidadania, projeta a importância dos estudos literários, uma vez que narrativizar o mundo é próprio dos(as) literatos (as), historiadores (as), contadores (as) de história e demais sujeitos, na esteira de Homi Bhabha, Gayatri Spivak, Achile Mbembe, Kwame Anthony Appiah, Valentim Yves Mudimbe, Jan Vansina, Joseph Ki-Berbo, A. Hampaté Bá, Carlos Moore, Kabengele Munanga, Angela Davis, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro, Eduardo de Assis Duarte, Cuti, Conceição Evaristo, Elio Ferreira e tantos outros (as) teóricos (as) e/ ou pesquisadores (as) africanos (as) e afro-brasileiros (as).

Prof. Dr. Elio Ferreira de Souza
Coordenador Geral

Entre os 62 (sessenta e dois) Palestrantes, constam 5 (cinco)  indígenas da América Latina:

Prof. Drª Elvira Espejo Ayaca (Nação Aymara / Bolívia)

Prof. Dr. Gersem Baniwa (Indígena, antropólogo, UFAM)

Profª Drª Graça Graúna (Indígena potiguara/RN, UPE)

Sra. Frncisca Cariri (Lideança indígena, Piaui)

Sr. Henrique Tabajara (Liderança indígena, Piauí)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Do amor pela vida



Quem ama de verdade, sabe que o Amor não faz distinção.
Quem ama, nem precisa (se) perguntar se esse sentimento é mesmo tão indispensável, pois o ato de Amar já é uma resposta.   
O grande personagem do livro é o Amor e a contadora de história é uma menina terena que tem um grande amor pela vida.
A autora do livro é Niara, da etnia Terena. Tem 11 aninhos, gosta de ler, escrever e desenhar pessoas e cachoeiras. Do jeito que ela escreve, parece uma filósofa. E por falar em filosofia, quem fez o prefácio do livro foi Daniel Munduruku. Que chic, não é?
Gostei tanto desse livro que eu também o recomendo cm todo Amor que eu tenho nesse mundo.

Saudações da potiguara,

Graça Graúna

Nordeste do Brasil, 
9 de outubro de 2017

FICHA TÉCNICA:
Editor: Téo Miranda, Editora sustentável
Projeto gráfico e finalização: Editora Sustentável
Coloração: Niara Terena e Téo Miranda
Colaboração: Naine Terena de Jesus
Revisão textual: Cristina Campos
ISBN: 978-85-67770-06-2

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Escrevivência indígena


  
       O poema "Escrevivência indígena", de minha autoria, foi escrito há muitos anos e recentemente ganhou outra roupagem na formatação ou na diagramação, na página do twitter @poesianaalma, da escritora Lilian Farias. A arte fotográfica é de Lilian, autora do Blog "Poesia na alma". 
       Estou muito encantada com este presente que se transforma em selo e mais que isso; a foto do poema representa para mim reconhecimento em torno dos saberes indígenas do qual faço parte desde nascença, melhor dizendo, antes mesmo de vir ao "novo mundo", em forma de gente que carrega desde sempre espírito de pássaro. À Lilian Farias, gratidão pelo carinho e pela  atenção aos meus escritos. 
       Saudações indígenas
                            Graça Graúna

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Literatura indígena: roda de conversa na Ufba



Ilustração: Maurício Negro

Literatura indígena: roda de conversa na Ufba. O cartaz do  Encontro é uma homenagem ao ilustrador Maurício Negro; o cartaz é uma releitura da capa da Revista Continente, em um número especial dedicado à Literatura indígena no Brasil.

sábado, 5 de agosto de 2017

II Jornada de Crítica Literária Ecocríticas da UNB, com Álvaro Tukano e Graça Graúna




II Jornada de Crítica Literária 
Ecocríticas: Estados de Natureza 

Datas: 14 e 15 de agosto de 2017 
Local: Auditório do IL, subsolo do ICC Sul


1. Introdução ao evento

         A Natureza já foi vista como o elemento negativo frente ao qual o Humano se afirmava. Sabe-se, hoje, que outras relações são possíveis - é o que mostra a vida e a experiência dos povos indígenas. No plano teórico, passou-se a pensar na Natureza enquanto múltiplo (o "multinaturalismo" de Eduardo Viveiros de Castro) e na inadequação do conceito (a "ecologia sem natureza", de Timothy Morton). Dentro do que chamaríamos de "Cultura", sabe-se que o fundamento do Estado é biológico - seja na relação do conceito de soberania com o animal (em Agamben e Derrida), seja na relação biopolítica do Estado com os seus sujeitos (Foucault). 
       Trata-se ainda, portanto, de repensar o conceito de Estado através de sua relação com o "natural", problematizando os conceitos utilizados. Se, nas teorias do Estado que surgiram na esteira do contato dos europeus com os ameríndios, pensava-se num "Estado de natureza" como ficção explicativa do contrato social, pode-se agora pensar em Estados de Natureza, uma multiplicidade de relações que aproximam e contrapõem o Estado enquanto prática político-policial a uma Natureza múltipla sob constante ameaça. 
       Tais relações múltiplas perpassam o campo dos estudos literários. A consolidação da área da Ecocrítica, nos últimos anos, reafirma a relevância de se discutir as múltiplas relações entre “natural” e humano. Dentro do panorama contemporâneo, devassado pela crise ambiental e por crises humanitárias sem número, a crítica literária tem uma responsabilidade frente ao presente: como pensar uma literatura que se engaja em temáticas que cruzam os campos do Estado e da “Natureza”? 

Promoção:
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea

Agências financiadoras: FAP-DF e CAPES

Coordenador: Pedro Mandagará (UnB)

Comissão Organizadora:
Anderson Luís Nunes da Mata (UnB)
Leila Lehnen (University of New Mexico)
Patrícia Trindade Nakagome (UnB)
Virgínia Maria Vasconcelos Leal (UnB)

Comissão Científica:
Ana Cláudia da Silva (UnB)
Devair Fiorotti (UERR-UFRR)
Regina Dalcastagnè (UnB)
Vinícius Gonçalves Carneiro (Paris-IV)

Programação e convidados
Dia 14 de agosto
19h – Abertura do evento
19h30 – Literatura e Direitos Humanos
Graça Graúna (UPE) Álvaro Tukano (Memorial dos Povos Indígenas, DF)

Dia 15 de agosto
9h30 – Biopolíticas 
Leila Lehnen (Universidade do Novo México)
Graziele Frederico (UnB)
Paulo Thomaz (UnB)

13h30 – Ecocríticas
Victoria Saramago (Universidade de Chicago)
Antonio Barros de Brito Junior (UFRGS)
Jorge Luiz Adeodato Junior (UFC)

16h – Alteridades 
Lucia Sá (Universidade de Manchester)
Devair Antonio Fiorotti (UERR-UFRR)
Waldson Souza (UnB)

18h – Lançamento das Edições Carolina Lançamentos de livros

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Enquanto o Pataxó dormia

Monumento em homenagem a Galdino
Foto: Lucas Salomão


Há vinte anos que cinco jovens de classe média alta atearam fogo no Pataxó Galdino; ele foi assassinado na madrugada de 20 de abril de 1997, enquanto dormia. Galdino estava em Brasília para reivindicar a demarcação do território Pataxó que foi invadido por fazendeiros na localidade de Pau Brasil, na Bahia. A foto refere-se ao monumento em homenagem a Galdino. (Foto: Lucas Salomão/G1). No poema seguinte, minha homenagem ao Pataxó Galdino:


Enquanto dormia

Um índio foi morto
numa parada de ônibus
do planalto central,
em Brasília.

Impossível esquecer
de Galdino Jesus
um guerreiro pataxó
exposto ao preconceito.

Enquanto dormia,
atearam-lhe fogo
em Brasília


                                   Graça Graúna

Nordeste do Brasil, abril indígena, 2017.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Memória das águas


Para refletir acerca do Dia 19 de abril (dia do índio), dedico este poema a todos(as) guardiões e guardiães das águas que percorrem os caminhos de Abya Yala (nome verdadeiro da América indígena, ou Ameríndia). O poema “Memória das águas” faz parte da Antologia “Survival e Sincretismo”, organizada por Carolann Madden (EUA) e outros poet’amigos (poetas e amigos).
Na foto, um pássaro observa o rio sem vida após o rompimento da barragem, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana/MG. A imagem foi extraída do site de noticias UOl e do Google.
Saudações indígenas,
Graça Graúna.


                                          Crédito: Uol e Google


Memória das águas


I
Onde havia abundância,
hoje é só tristeza.
São tantos os pesadelos
que a mísera paisagem
se alastra e, de norte a sul,
os filhos da terra
ouvem os soluços dos rios
vindos das profundezas da terra.

II
São tantos os rios ofendidos:
Tietê
Iguaçu
Ipojuca
Gravataí
Capibaribe
Potengi
Rio Doce
Rio dos Sinos
tantos rios poluídos...

III
Que mãe não consolaria o filho
açoitado, explorado, excluído,
impedido de ir e vir
no seu direito de rio?
Exaurida de tanto sofrimento,
a Mãe Terra acolhe os filho
no amalgama doloroso de água e lama,
arrastando-o,
pelo infindável caminho da memória
para alcançar o mar

IV
Em nome do “progresso”
os inimigos (obaîara)*
agridem a natureza
derrubam as florestas
deslocam os rios
envenenam as águas
destroem os sonhos
trucidam os filhos da terra.

 V
Infindável é a memória das águas
e o caminho da resistência.
Dos rios que se foram
na contramão do progresso,
fica a esperança de reencontrar
o nosso lugar no mundo.


(*) obaîara: em tupi, significa inimigo da nação.

Graça Graúna
Nordeste do Brasil, abril indígena, 2017


Water memory

I
Where there was plenty,
today is just sadness
there are so many nightmares
so that the miserable landscape
spreads and, from north to south,
the earth's children
hear the sobs from the rivers
coming from the depths of earth.

II
There are so many offended rivers:
Tietê
Iguaçu
Ipojuca
Gravataí
Capibaribe
Potengi
Rio Doce
Rio dos Sinos
Too many polluted rivers ...

III
Which mother would not comfort its son?
flogged, exploited, excluded,
obstructed from coming and going
in its right of being river ?
exhausted by too much suffering,
Mother Earth welcomes its
children
in the painful blend of water and mud,
dragging them,
through the endless path of memory
towards the sea

IV
In the name of "progress"
the enemies (obaîara) *
attack nature
knock down the forests
move the rivers
poison the waters
destroy the dreams
slaughter the earth's children

V
Endless is the memory of waters
and the path of resistance
from the missing rivers
on the contraflow of progress,
remain the hope of rediscovering
our place in the world.



Graça Graúna
Nordeste do Brasil, abril indígena, 2017

segunda-feira, 20 de março de 2017

Defesa do povo Xukuru na Corte Interamericana de Direitos Humanos

As violações de direitos Humanos ao Povo Xukuru serão julgadas na Corte Interamericana de Direitos Humanos

 Imagem: unicap.br





Luis Emmanuel Barbosa Cunha[1]
Manoel Severino Moraes de Almeida[2]


O Povo Xukuru será ouvido na Corte Interamericana de Direitos Humanos. No período de sessões da Corte, de 10 a 28 de março de 2017, um dos casos mais emblemáticos de violação coletiva de Direitos Humanos ocorrido no Brasil finalmente dará um passo decisivo em busca de uma sentença de mérito favorável à luta indígena no Brasil e nas Américas.
O caso Xukuru chegou ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a partir da Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 2002, marcado por alto grau de violência física, étnica, moral e simbólica contra os indígenas realizado pelo Estado brasileiro em seus atos comissivos e omissivos em não completar o processo de demarcação com a posse tranquila pelos indígenas de suas terras ancestrais. Com efeito, o Povo Indígena Xukuru aguarda há tempos a demarcação de suas terras, inicialmente prometida pelo Império brasileiro, desde que os xukurus participassem da Guerra do Paraguaia em favor do Brasil. A promessa do Império não foi cumprida, bem como permanece inadimplente a República em seu Estado Democrático de Direito.
Desde o início formal do processo administrativo de demarcação, há 29 anos, ainda existem não índios intrusados na terra, além de grandes perdas pessoais: o assassinato do grande líder Cacique Xicão, que liderou a ação proativa dos Xukurus na retomada de suas terras ancestrais, de Chico Quelé e de Geraldo Rolim, por exemplo. A tentativa de assassinato do Cacique Marquinhos também foi um momento de tensão. Hoje ele e Dona Zenilda, sua mãe, vivem ainda sob a proteção do Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos.
Desde já, todo nosso apoio e solidariedade ao Povo Xukuru e aos peticionários: Justiça Global, CIMI, GAJOP e Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que têm feito um grande trabalho desde a primeira petição de mérito e cautelares junto à CIDH lá em 2002. Nesse caso emblemático, não está em jogo apenas o debate sobre o direito de propriedade, está também em jogo o respeito a um projeto de vida coletivo, extremamente importante para preservação de matas, das águas, das sementes caboclas e de uma cultura, enfim, para uma vida humana em pleno equilíbrio com a natureza; está em jogo o direito à vida e à integridade física; está em jogo o direito à autodeterminação dos povos e a liberdade de se expressar como lhe convém; está em jogo o reconhecimento dos Direitos Humanos como um fenômeno vivo e interdependente.


[1] Doutorando na pós-graduação em Direito pela UFPE

[2] Ex-membro da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara de Pernambuco

quarta-feira, 8 de março de 2017

Retratos (8 de março)

Site: Yandê (Rádio indígena)


Retratos
Autora: Graça Graúna

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta

fiandeiras
guardiãs
ao tecer o embalo
da rede rubra ou lilás
no mar da palavra
escrita voraz.

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
tecelãs
retratos do que sonhamos
retratos do de que plantamos
no tempo em que a nossa voz
era só silêncio


Graça Graúna. Retratos. In: Antologia retratos (Org. Elizabeth Siqueira, Edições Bagaço, Recife/PE, 2004)