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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Representantes das comunidades Ye'kuana realizam intercâmbio com povos do Alto Rio Negro


 Imagem: ISA. Os Ye'kuana são recebidos na maloca pelos Tuyka

Três Ye`kuana da região de Auaris, em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela passaram por Manaus, São Gabriel da Cachoeira e chegaram no Alto Rio Tiquié, na Terra Indígena Alto Rio Negro, noroeste amazônico. Ao longo do trajeto foram trocadas muitas experiências especialmente na área de educação, onde participaram das formaturas de ensino médio das escolas Tuyuka e Tukano Yupuri.
A viagem ao Alto Rio Negro, entre 3 e 22 de novembro, foi uma grande oportunidade para que David Albertino, liderança da comunidade Fuduwaaduinha, Castro Costa, presidente da Associação do Povo Ye`kuana do Brasil (Apyb) e Felipe Albertino, professor da comunidade Waichainha pudessem conhecer experiências inovadoras e transmití-las na volta às suas comunidades. A associação que eles integram passa por uma fase de consolidação e reformulação de projetos políticos e pedagógicos e o intercâmbio trouxe novos conhecimentos especialmente em relação à experiência dos tuyuka e tukano no ensino médio. Foram acompanhados pelo assessor do Programa Rio Negro, do ISA, Vicente Coelho.
Depois de passar por Manaus e São Gabriel da Cachoeira, a equipe entrou na Terra Indígena Alto Rio Negro, subindo o Rio Uaupés e em seguida o Rio Tiquié para participar das formaturas de ensino médio das escolas Tukano e Tuyuka, ambas assessoradas pelo ISA. A participação vem de encontro às atuais reflexões dos Ye’kuana sobre a necessidade de desenvolver o ensino médio Ye`kuana em sua própria terra, já que .ao longo dos últimos anos houve grande fluxo de jovens para Boa Vista/RR para cursar o ensino médio. Na avaliação que as lideranças Ye`kuana fizeram durante a 2a Assembleia da Apyb, este processo vem causando um expressivo esvaziamento das aldeias e prejudicando a transmissão dos conhecimentos tradicionais.

Chegando inicialmente à comunidade Tuyuka São Pedro, a equipe pôde conhecer os trabalhos da Escola Utapinopona e acompanhar a formatura de sua segunda turma de ensino médio - a primeira turma que fez todo o ensino médio, do começo ao fim, na mesma escola. 

Escola Tuyuka é referência de educação escolar indígena diferenciada
Com mais de uma década de existência, a Escola Tuyuka é conhecida como uma importante referência da educação escolar indígena diferenciada. Localizada numa região que foi fortemente influenciada pela atuação salesiana – que desestruturou todas as bases da identidade indígena – a Escola Utapinopona vem levando adiante um projeto pedagógico que busca valorizar os conhecimentos tradicionais através de um constante diálogo intercultural.


Desta forma, antigas tradições que estavam se perdendo vêm sendo retomadas e reforçadas, assim como novos conhecimentos estão sendo produzidos a partir das demandas colocadas pelas comunidades. Neste sentido, um importante marco do projeto da Escola Tuyuka foi a criação do ensino médio, que diminuiu significativamente o fluxo de jovens que saiam das comunidades para dar prosseguimento a seus estudos na cidade de São Gabriel da Cachoeira.

Uma semana depois, os Ye’kuana desceram para a comunidade Tukano São José II, onde assistiram à primeira formatura de ensino médio da Escola Yupuri. Assim como na Escola Tuyuka, professores e estudantes da Escola Yupuri vêm desenvolvendo pesquisas que fortalecem a cultura e a autoestima indígena, ao mesmo tempo criando novas bases para se pensar o futuro dos povos indígenas do Alto Rio Negro.
De acordo com o professor Higino Tenório, articulador e um dos idealizadores da Escola Tuyuka, apesar de todas as conquistas alcançadas no plano dos direitos indígenas, o pensamento predominante na sociedade brasileira continua sendo colonial e, por isso, a produção de conhecimentos se torna uma questão decisiva nos processos de luta dos povos indígenas. 

Geração de renda e representatividade política
Durante a passagem por Manaus os Ye`kuana fizeram uma reunião com a diretoria da GaleriAmazônica, loja que comercializa artesanatos em parceria com as associações indígenas. A proposta da loja é a realização de um comercio justo com o mínimo de atravessadores que separam as comunidades dos compradores. Os Ye`kuana se interessaram pela proposta e combinaram reunir-se com as comunidades para discutir o assunto. Se os artesãos e artesãs confirmarem interesse será produzido um catálogo de seus artesanatos para a loja.
Ainda sobre a comercialização de artesanatos, em São Gabriel da Cachoeira os Ye’kuana visitaram a Wariró, loja criada e mantida pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – Foirn. Assim como a GaleriaAmazônica, a Wariró também comercializa artesanatos indígenas com o objetivo de gerar renda para as comunidades.
Para os Ye`kuana, que já vêm comercializando seus artesanatos de forma informal, a perspectiva de organizar sua produção e buscar novos mercados é uma oportunidade de não só de garantir preços mais justos, como de fortalecer o papel de sua associação enquanto organização representativa.
Também em São Gabriel da Cachoeira, os Ye`kuana visitaram a sede da Foirn. Maximiliano Correa Menezes, um de seus diretores, apresentou o trabalho da organização, sua estrutura e funcionamento. Sendo uma das principais organizações indígenas do Brasil, a experiência da Foirn apresentada por Maximiliano, foi mais uma motivação para os Ye’kuana prosseguirem na busca por representatividade política. Neste encontro foram também debatidas as trajetórias dos povos do Alto Rio Negro e dos Ye`kuana, que têm em comum o longo histórico de contato e opressão por parte das sociedades envolventes, assim como a constante luta pela preservação de sua autonomia e seus conhecimentos tradicionais.
Por todos esses motivos a vivência dos Ye`kuana junto aos povos Indígenas do Rio Negro e na cidade de Manaus foi extremamente enriquecedora. Ao longo da viagem, Castro, David e Felipe, trocaram experiências, ouviram dificuldades e sugestões que muito contribuirão para os processos de fortalecimento político e restruturação de sua educação escolar. Assim, os Ye`kuana retornam para Roraima levando preciosas referências para continuarem sua luta por autonomia.

Fonte: ISA, Vicente Coelho.

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