Abralic. Imagem extraída do Google
XVI CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Brasília, UNB, 2019
Resumo do Simpósio n. 86
POÉTICAS INDÍGENAS EM FOCO
Coordenação: Profª. Drª Graça Graúna (UPE); Profª. Drª Maria
Silvia Cintra Martins (UFSCar)
O tema
deste Simpósio reafirma o nosso
compromisso com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas, aprovada em 2007, ao convocar a comunidade internacional a se
mobilizar para assegurar total respeito pela dignidade, pelo bem-estar e pelas
liberdades fundamentais dos povos indígenas. O foco do Simpósio trata das poéticas
indígenas em suas diferentes manifestações. Nesta perspectiva, serão bem-vindos
trabalhos em torno da literatura e das artes indígenas em geral, incluindo o
cinema, as cantorias, a contação de histórias, a pintura corporal, a dança, a
música, os cantos xamânicos, o ato de declamar, o grafismo rupestre e o
grafismo urbano de autoria indígena, entre outras artes visuais. Sendo o
congresso da ABRALIC de teor acadêmico, serão bem-vindos, de toda maneira,
trabalhos que se façam acompanhar de performances ou representações. Além
disso, em se tratando das artes indígenas, que possuem, por natureza, viés
transdisciplinar, também será possível e desejável que temáticas como as dos
direitos de indígenas sejam abordadas, conjuntamente à temática das poéticas
indígenas. Um exemplo da poética indígena reside no poema declamado por Ailton
Krenak (liderança indígena) no dia 3 de agosto de 2018, durante uma roda de
conversa sobre literatura indígena, no Congresso da ABRALIC, em Uberlândia/MG;
trata-se do poema “Continuum”, que ele escreveu em 2005, na Serra do Cipó/MG. Continuum também pode
ser o conjunto de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, tais como sugerem as reflexões da ABRALIC 2018 acerca de circulação, tramas
e sentidos na Literatura. Nesse ritmo, o Simpósio POÉTICAS INDÍGENAS EM FOCO
nos aproxima (em vários sentidos): das canoas, dos rios e riachos; das
montanhas, das serras; das lutas, dos sonhos; do programa “Voz Indígena” (junto
à Rádio UFSCar, da Universidade Federal de São Carlos, que já conta com 65
edições) liderado por João Paulo Riberio (indígena guarani), que, em sua
pesquisa de doutorado, propõe a poética do traduzir para o Nheengatu a obra
“Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, abrindo, com isso, um leque de
possibilidades: a valorização e retomada das línguas indígenas; a valorização
das culturas indígenas, incluindo-se, nesse caso, o xamanismo, já que o
acadêmico guarani propõe que o ato tradutório se dê na esteira das práticas
xamânicas, chamando-nos a lembrar a importância do xamã como um tradutor entre
mundos; a revisita da obra de Graciliano Ramos, por
meio de uma abordagem que prevê o multinaturalismo e o perspectivismo indígena.
O Simpósio também abrange a poética do sonho azul nos versos do mapuche Elicura
Chihuailaf. A poética de
Elicura denuncia a sua condição de indígena exilado. Na entrevista ao site
Crítica.Cl, ele comenta que apesar do deslocamento, a poesia revela
que a cada dia ele “aprende a apreciar o que significa habitar no meio de uma
diversidade tanto na natureza quanto entre os homens”. A percepção do mundo indígena também é notória na
poesia charrua de Maria Huebilu a nos lembrar que os ancestrais continuam vivos
em nós, assim como a crônica de Severiá Idioriê, entre outros textos escritos
por mulheres indígenas no volume 4, da Revista LEETRA Indígena, da UFSCar, em
2014. Desse modo, seguimos, nesta XVI ABRALIC, no continuum – como diria o
poeta – entre literatura e outros saberes como sugere a voz da terra na poética
indígena. E a propósito do Ano Internacional das Línguas Indígenas – dedicado
pela ONU ao ano de 2019 – cabe reiterar o direito de sonhar um mundo melhor; o
direito de intuir os sentidos da literatura indígena e tudo que nos aproxime da
poesia necessária, como sugere o poética do “Continuum”, no rastro dos nossos
ancestrais.
REFERÊNCIAS:
ABRALIC. Circulação, tramas & sentidos. Congresso Internacional.
Uberlândia/MG, 2018.
CHIHUAILAF,
Elicura. Sonho azul. Disponível em: https://issuu.com/grupo.
leetra/ docs/ leetra_vol4. Acesso
em 05.jan.2019.
CHIHUAILAF,
Elicura. Entrevista. Disponível em: http://critica.cl/entrevistas/entrevista-al-poeta-elicura-chihuailaf-“el-estado-protege-saqueo-del-territorio-mapuche”
. Acesso em 05.jan.2018
GRAÚNA, Graúna. Contrapontos da literatura indígena
contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010.
IDIORIÊ,
Severiá. Quem somos? Para onde vamos? Disponível em: https://issuu.com/grupo.
leetra/ docs/ leetra_vol4.
Acesso em 05.jan.2019.
KRENAK, Ailton. Continnum. Poema declamado na Mesa
“Vozes ameríndias”, Congresso da Abralic/2018, Uberlândia, MG.
LEETRA Indígena.
Volumes 1 a 18. São Carlos: UFSCar/ Grupo de Pesquisa LEETRA. Disponível em: www.leetra.ufscar.br
MARTINS, Maria
Sílvia Cintra (Org.). Ensaios em
Interculturalidade: Literatura, Cultura e Direitos de Indígenas em época de
globalização. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2014.
RIBEIRO, João Paulo. Guia Turístico: Tikanga rikue: uma profética do traduzir. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2018.
A esperança que surge nos tempos sombrios.
ResponderExcluirMe pone muy feliz este Congreso que lleva a conocer la literatura aborigen, seguramente basada sobre las tradiciones culturales. Deseo que no se pierda esa riqueza de las lenguas y mitología de los nativos americanos. ¡¡Suerte!!!
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