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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Elicura, poeta mapuche: Prêmio Nacional de Literatura 2020

Elicura, poeta mapuche: Prêmio Nacional de Literatura 2020

 

 

Elicura Chihuailaf

(Crédito da foto: Graça Graúna)

 

Em meio a tantas notícias ruins que correm pelo mundo, sobretudo nesse tempo de pandemia; algo de muito positivo aconteceu no início de setembro de 2020. Até me atrevo a dizer, com licença poética, que o céu pareceu mais azul; um sonho azul com aroma primaveril e que nos leva à poesia mapuche.

Sim, um sonho azul do poeta Elicura Chihuailaf, o primeiro indígena mapuche vencedor do Prêmio Nacional de Literatura do Chile. Os jornais de vários países destacam a tradição oral e o universo poético e a cultura do povo mapuche que habitam nos livros de Elicura.

Em 2014, o III Caxiri na Cuia, isto é, um encontro de escritores e artistas indígenas coordenado por Daniel Munduruku e promovido pela Universidade de São Carlos (Ufscar), contou com a participação de Elicura, do escritor canadense Cash Ahenakew e de vários escritores e intelectuais e indígenas brasileiros. Esse evento realizou-se na Universdade de São Paulo (USP), onde foi lançado o livro “Sonho azul” de Elicura; numa edição alternativa compartilhada com os parentes indígenas que participaran do referido evento.  


Edição alternativa do livro "Sonho azul"


Esse livro foi traduzido em português por Patrícia de Moura Leite, e encadernado em folhas de papel sulfite azul, junto ao Grupo de Pesquisa LEETRA, da Universidade de São Carlos (Ufscar). O título do livro do parente mapuche é também o nome do poema (Sonho azul), do qual apresentamos o fragmento que seque:

 

A casa Azul em que nasci está

situada em uma colina

rodeada de hualles*, um salgueiro

nogueiras, castanheiras

um aroma primaveril no inverno

_ um sol com a doçura do mel  de ulmos _

chilcos rodeados a sua vez de beija-flores

que não sabíamos se eram reais

ou visões: Tão efêmeros!

No inverno sentimos cair os carvalhos

partidos pelos raios

Nos entardeceres saímos, abaixo de chuva

ou ao redor, a buscar as ovelhas

(às vezes tivemos que chorar

a morte de algumas delas

navegando sobre águas)

 

Pela noite ouvimos os cantos

contos e adivinhanças

à beira do fogão

respirando o aroma do pão

modelado pela minha avó

minha mãe e tia Maria

enquanto meu pai e meu avô

_ Lonko/Chefe da comunidade_

observavam com atenção e respeito.



 *hualles, aroma, chilcos: árvores



Acerca da premiação de Elicura, cabe sublinhar as palavras de Consuelo Valdés, Ministra da Cultura do Chile. Conforme o Correio Popular (https://correio.rac.com.br/), a Ministra Valdés ao anunciar o prêmio enfatizou a capacidade do poeta mapuche:

 

[por] instalar a tradição oral de seu povo em uma escrita poderosa que transcende a escrita mapuche [...] valendo-se de uma expressão muito própria, ele tem contribuído de forma determinada para difundir seu universo poético pelo mundo, ampliando a voz de seus ancestrais da contemporaneidade

 

 

Segundo o Correio Popular (https://correio.rac.com.br/ ), o poeta Elicura faz parte do grupo de escritores que surgiu após o golpe de Augusto Pinochet em 1973, uma geração marcada pelo exílio.

Os noticiários mostram que os textos de Elicura são originalmente redigidos em castelhano e mapudungun (língua mapuche), e traduzidos para dezenas de línguas, nos quais também se destaca o apelo à conversa como única forma de entendimento com os povos indígenas.


Escritores indígenas
No sentido horário:  Edson Krenak, Cash Ahenakew, Elicura e Graça Graúna
(Acervo de Graça Graúna)


A poética de Elicura denuncia a sua condição de indígena exilado. Na entrevista ao site "Crítica.Cl", o parente mapuche comenta que apesar do deslocamento, a poesia revela que a cada dia ele “aprende a apreciar o que significa habitar no meio de uma diversidade tanto na natureza quanto entre os homens”.

 

Ameríndia, 10 de setembro de 2020

Graça Graúna

(mulher indígena potiguara/RN)

4 comentários:

  1. Que delícia de boa nova! Viajei na Poesia desse confrade indígena e meu coração se alegra com tamanha dádiva. Aguijê! Toikobe a cultura indígena em todas as sua formas e etnias.

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    1. Gratidão, Eva. O parente Elicura merece esse reconhecimento. Viva o povo Mapuche!!!

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  2. Eita sonho lindo!, sonhado juntos.Então somos muitos.

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  3. ...um sonho lindo, mesmo. Viva o povo Mapuche!

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